domingo, 30 de setembro de 2007

Kanzeon de 11 faces

Kogen esculpindo a Kanzeon

No Vale dos Templos (Kinkaku-ji), em Itapecerica da Serra , 50 km de São Paulo, o monge Kogen Gouveia está esculpindo o Kanzeon de 11 faces em um pedaço de 2 metros do tronco de um jequitibá, com mais de 400 anos, que veio de Camacã, 510 km de Salvador, no estado da Bahia.
Pelos seus cálculos Kogen ainda tem trabalho para mais de dois anos até finalizar a Kanzeon com as 10 faces em volta da cabeça principal. Cada uma das faces está voltada para um ponto cardeal e para os colaterais nas 10 direções: norte, sul, leste, oeste, acima, abaixo, ao lado...


Portal do Mosteiro Zen Morro da Vargem

Conheci Kogen em 1993 no Mosteiro Zen Budista Morro da Vargem (Ibiraçu-ES) quando fui, com o jornalista Ademir Assunção, fotografar para a revista Marie Claire. Naquela época ele esculpia em pedaços de jaqueira Bodhisatwas que hoje ornam o templo do mosteiro.
Eu já tinha afinidades com o Zen e batizei lá o meu filho Manuel Amado Pereira. Foram padrinhos os artistas plásticos Ernesto Neto e Marilá Dardot.



















Templo da Kanon e workshop a fotografia e o Zen - fotos A. R. Leão

Em outra época fui fazer fotos para o livro comemorativo dos 25 anos do mosteiro. Voltei e coordenei o workshop fotográfico “A fotografia e o Zen”. Participaram fotógrafos de várias partes do Brasil. Ficamos lá três dias fotografando, meditando e aprendendo práticas Zen. Kogen tinha esculpido a Kanon com 4 metros de altura. O mosteiro ergueu o Templo da Kanon para abrigá-la.
Querendo aprimorar o aprendizado, Kogen foi para Tokyo e fez um estágio de três meses com o mestre escultor Ito Kojiro.

Kogen na Cachoeira do Rio das Pedras em Camburi

No outono deste ano fomos juntos passar um final de semana na minha casa em Camburi, litoral norte de São Paulo e ali ficamos conversando, passeando, fotografando, fazendo comidas e ele lendo, ainda no laptop, o livro que está escrevendo “A ponte”.
Durante os próximos dois anos irei, periodicamente, até o Vale dos Templos fotografar o andamento da escultura.

sábado, 29 de setembro de 2007

Amazônia em chamas


Queimadas atingem níveis alarmantes na floresta amazônica

Por Bruno Taitson - WWF/Brasil


Juntamente com o fotógrafo Juvenal Pereira, decolei do Aeroporto de Rio Branco (Acre) em um bimotor Sêneca II, na tarde do dia 23 de agosto. O objetivo do sobrevôo era fazer fotografias aéreas da floresta para abastecer o banco de imagens da Rede WWF. Já nos primeiros minutos, percebemos que a meta da viagem sofreria uma alteração. Mal havíamos alçado vôo e já nos deparávamos com diversos focos de incêndio. Assustador. Uma coisa é ver a floresta queimar em imagens de televisão ou em fotos. Outra completamente diferente é presenciar, do alto, chamas consumindo grandes porções de mata nativa, a ponto de chegarmos a tossir por causa da fumaça e a sentir na pele o calor das labaredas. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão federal que monitora por satélite os focos de calor no país, apontam que o número de queimadas* na Amazônia Legal brasileira, entre janeiro e agosto deste ano, aumentou cerca de 96% em comparação com o mesmo período de 2006. Nos oito primeiros meses do ano passado, o Inpe detectou 9.119 focos. Este ano, também entre janeiro e agosto, o número saltou para alarmantes 17.882. Em um sobrevôo de apenas cinqüenta minutos próximo à capital Rio Branco, entre a Rodovia Transacreana e a BR-364, vimos cinco ou seis focos de incêndio. Também pudemos observar grandes áreas que já haviam sido devastadas por queimadas recentes. O trecho sobrevoado apresentou uma amostragem da ação de dois dos principais fatores de desmatamento da Amazônia: pecuária e exploração madeireira. Grandes áreas abertas no meio da floresta eram ocupadas por rebanhos com dezenas e até centenas de cabeças de gado. Também vimos, em vários pontos, toras de madeira empilhadas em clareiras recentemente abertas, prestes a serem retiradas. O acesso às toras se dá por pequenas vias de terra abertas no meio da mata, ligando as clareiras a estradas mais largas que, por sua vez, terminam em rodovias asfaltadas. A situação é ainda mais preocupante pelo fato de a região sobrevoada estar no entorno de uma capital estadual; uma área, em princípio, mais fácil de ser fiscalizada por contar com boa infra-estrutura rodoviária e de telecomunicações. As fotos tiradas durante o percurso revelam a gravidade da situação, mostrando uma paisagem, na maior parte do tempo, encoberta pela fumaça e com visibilidade comprometida. De acordo com Sidney Rodrigues, coordenador do Laboratório de Ecologia da Paisagem do WWF-Brasil, o monitoramento das queimadas é de grande importância para a conservação da Amazônia. “Esses dados servem de subsídio para a elaboração de uma série de medidas preventivas, como a criação de brigadas de incêndio em áreas mais críticas, a definição de calendários de queima e ações de fiscalização e controle”. O coordenador destaca também que, especialmente na Amazônia, as queimadas são utilizadas, principalmente, para preparar o terreno para a formação de pastagens e por grileiros, que queimam áreas antes de ocupá-las ilegalmente com objetivo de lucrar com a venda das terras devastadas. “Por isso, além do monitoramento dos focos de incêndio, também é essencial criar e implementar unidades de conservação, que representam um obstáculo a essas atividades ilegais”, conclui. * na Amazônia, a maior parte dos focos de calor corresponde a queimadas. Notas complementares**: O monitoramento de queimadas e incêndios divulgado pelo Inpe é viabilizado por meio do satélite meteorológico norte-americano NOAA 15 (National Oceanic and Atmospheric Administration), que fotografa a Terra duas vezes por dia e orbita a aproximadamente 850 quilômetros de altitude. O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) divide as ocorrências de fogo na Amazônia em três categorias:

1 – Queimadas para desmatamento: intencionais e associadas à derrubada e à queima da floresta. Principal causadora de impactos ambientais, uma vez que substitui a vegetação florestal por ecossistemas antropogênicos.

2 – Incêndios florestais rasteiros: provenientes de queimadas que fogem ao controle e invadem florestas primárias ou previamente exploradas para madeira. Podem eliminar até 80% da biomassa florestal acima do solo, impactando também a fauna, além de aumentar a inflamabilidade do solo.

3 – Queimadas e incêndios em áreas já desmatadas: resultam do fogo intencional ou acidental em pastagens, lavouras e capoeiras. São responsáveis pela perda de nutrientes de ecossistemas agrícolas e liberam grandes quantidades de fumaça e partículas na atmosfera. As queimadas e incêndios liberam grandes quantidades de carbono na atmosfera, agravando o aquecimento global. Também contribuem de forma significativa para a savanização da Amazônia.
Para ver a matéria na íntegra acessem: www.wwf.org.br/index.cfm?uNewsID=9400

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Coyote 5 anos

Coyote número 1 - foto de Juvenal Pereira

É para comemorar.
Veham todos

A revista literária COYOTE está completando 5 anos de existência e a comemoração será com uma madrugada cultural no Teatro dos Sátyros 2, no próximo dia 6 de outubro (sábado). A noitada começa às 21 horas, com o lançamento da edição de número 15 no Sebo do Bac (saguão do teatro). Em seguida, à 1 hora da madrugada do domingo, tem início a Noite Coyote, intercalando leituras, shows musicais e projeções, no palco do teatro.

Na programação constam o poeta Ademir Assunção, o dramaturgo Mário Bortolotto, os compositores Edvaldo Santana, Carlos Careqa, Wanessa Bumagny e Linari e a atriz Phedra de Córdoba, que lerá poemas do cubano Pedro Juan Gutierrez. Os atores Paulo de Tharso e Daniella Angelotti apresentarão esquete teatral baseada em poema do francês Leó Ferré. O escritor Daniel Cavana lerá poemas de Julio Cortázar publicados na última edição da revista. Os fotógrafos Juvenal Pereira e Edinho Kumasaka farão projeções dos ensaios fotográficos “Olho de Boi” e “Bibelôs em Transe”. Serão exibidas ainda animações do personagem Tulípio, criado por Eduardo Rodrigues e Paulo Stocker, e o curta-metragem “Melodrama Blues”, de Robson Timóteo, com poema de Marcelo Montenegro e música de Fábio Brum.
Editada pelos poetas Rodrigo Garcia Lopes, Marcos Losnak, Maurício Arruda Mendonça e Ademir Assunção, a revista Coyote vem mantendo uma orientação de radicalidade tanto editorial quanto gráfica. Na décima-quinta edição, que está sendo lançada, traz um dossiê de 8 páginas sobre Julio Cortázar (fragmentos da última entrevista, concedida a Jean Montalbetti, um mês antes de sua morte, e poemas inéditos em português, traduzidos por Cassiano Vianna), poemas do inglês Philip Larkin (traduzidos por Luiz Roberto Guedes), um fantástico lipograma de Bráulio Tavares, fragmentos de livro em andamento de Vicente Franz Ceccim e um poema inédito de José Lino Grünewald, cedido especialmente por sua viúva, Ecila Grünewald. Publica também poemas do angolano José Luis Mendonça, ensaio fotográfico de João Urban, história em quadrinhos de Daniel Caballero e contos do londrinense Márcio Américo, do matogrossense Douglas Diegues, e do carioca Paulo Moreira.

Olho de porco































Durante 10 anos fotografei arquitetura, equipamentos, médicos, funcionários e visitantes (sheik, ministros e presidentes) para os jornais do Hospital Sírio Libanês. Gostava do que fazia. Lá é um centro de excelência.
Numa reportagem no centro de pesquisas porcos estavam sendo estudados na sala de cirurgia e a médica veterinária Flávia Coelho cuidava dos animais. Com os auxiliares sacavam os olhos dos porcos para o banco de olhos e também para que os médicos oftalmologistas do curso de pós-gradução pudessem fazer estudos cirúrgicos. São semelhantes aos olhos dos humanos.
Fiz um ensaio fotográfico dos olhos sendo extirpados e depois convidei o web designer Vitor Novais para fazer uma animação em flash. Ficou forte. O olho é a minha ferramenta de trabalho.
Vou apresentar esta animação, pela primeira vez, no dia 6 de outubro no Sátyros - Praça Roosevelt em São Paulo, nas comemorações dos 5 anos da Revista Coyote (Poesia e fotografia). Apareçam.
No ano passado, em março, achei que já não tinha mais perguntas a fazer lá no hospital e saí.
Continuo on the road.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Yãkwa


Sal vegetal


Festa ritual dos índios Enawene-Nawe em homenagem aos espíritos subterrâneos - donos dos recursos naturais e das doenças. É realizada depois que uma série de catástrofes provocadas pela ação dos espíritos subterrâneos, sob a forma de ataques de onças, monstros aquáticos, tribos inimigas e epidemias quase os dizimou totalmente.

Hari-kare

A etnia
Os Enawene-Nawe moram na aldeia Matokodakwa - noroeste do Mato Grosso (Brasil). Também são conhecidos como os Salumãs. Nas suas crenças são descendentes de um único casal de seres humanos, suas tribos ancestrais originalmente habitavam o interior de uma pedra e, graças ao auxílio de um pica-pau, que fez um buraco na pedra abrindo uma passagem ao mundo exterior, eles se espalharam pela superfície da terra.
São muito bem humorados.

No final da tarde vários hare-kares tocam suas flautas

Os costumes
Mudam com freqüência de aldeia. A mudança geralmente é provocada pelo esgotamento dos solos em seus arredores, somado ao acúmulo de defuntos enterrados sob o chão das casas – o que atrai perigosamente os espectros sinistros dos mortos. Entre outras atividades as mulheres cuidam das roças e os homens das pescarias.
Dentro de sua cosmogonia o mundo tem 4 camadas: a terra; acima da terra onde ficam os Enores; acima dos Enores, a vastidão universal; e abaixo da terra, os Yakairitis.


Adultos e crianças levam os peixes moqueados para a aldeia

A festa. Yãkwa
Alguns índios nos esperavam na margem direita de quem desce o Rio Iquê. Na nossa chegada conversas rápidas e ajustes nos enfeites corporais de fibra de buriti. Um deles assume o controle do barco e fomos rio acima numa quase corrida fluvial.
No porto mais próximo da aldeia alguns Hari-Kares (anfitriões), jovens e crianças esperavam os Yãkwas – pescadores. Ali são descarregados os peixes moqueados envoltos em peças de taquara e transportados em cestos nas cabeças dos índios. Velhos, jovens e crianças caminham em fila até avistarem a aldeia. Com gritos, sons e cantos uma nova energia toma conta dos pescadores.
Na subida final a tensão aumenta. Logo em frente os Yãkwas entram na aldeia carregando cestos e estandartes - um peixe moqueado na ponta de um galho. Neste caminho são presenteados com cuias de mingau. Grupos de meninas e mulheres esperam ao lado das malocas.

O encontro

No centro da aldeia os pescadores Yãkwas são recebidos pelos Hari-Kares já enfeitados com fibras de buriti e adornos plumários.
A recepção é uma topada de peito com peito. Não é uma briga. É uma troca de sensações: chegando e deixando chegar depois de mais de 40 dias pescando em rios distantes da aldeia. O receber inclui a produção de beijus, sal vegetal (feito de folhas das palmeiras – função feminina), enfeites, flautas e mingaus.

Em volta do fogo

Também construir a fogueira principal cercada por estacas, em círculo, no meio da aldeia. Nas estacas são amarradas peças feitas com resinas vegetais e envoltas com folhas de pacova. Quando acesas viram tochas perfumadas e determinam um palco/círculo.



No período da vazante dos rios, as tardes e noites da Aldeia Matokodakwa são envolvidas no som inebriante de várias flautas, cantos e danças agradecendo a pescaria e a boa safra.

Texto e fotos de Juvenal Pereira

Faroeste caboclo em Juina

Enawene-nawe


Minha amiga Izabela Ferreira que mora em Belo Horizonte me enviou um e-mail sugerindo que eu visse o vídeo sobre a frustrada visita que o Greempeace e dois jornalistas estrangeiros fariam na tribo dos Enawene-nawe para uma reportagem sobre as condições em que vive esta etnia. http://br.youtube.com/watch?v=q9esNX7bzHY
Inacreditável o que rola na cabeça dos fazendeiros e do prefeito Hilton Campos (PR) no município de Juina (noroeste do Mato Grosso)
Vejam uma das reportagens neste endereço: http://consciencia-textos.blogspot.com/2007_09_05_archive.html.


Adolescente Enawene-nawe

Em maio do ano passado fui até a aldeia dos Enawene-nawe fazer uma documentação fotográfica sobre o Yãkwa (festa para os espíritos subterrâneos) para a Revista Brasil Indígena que é publicada pela FUNAI. Foram quatro dias conhecendo uma das etnias mais encantadoras e me foi dado livre acesso em todos os momentos do ritual.
Fico pensando em como os fazendeiros, vereadores e prefeito foram capazes de tanto autoritarismo e despotismo.
Vou publicar aqui (breve) a minha observação sobre o encontro com eles os Enawene-nawe
Aguardem.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Juliano Costa, Mara Faria e André Henriques

Mara Faria Trio

No último sábado o Mara Faria Trio fez sua primeira apresentação em São Paulo. Foi na Choperia do SESC Pompéia. Mandaram bem.
Mara Faria voz, Juliano Costa percussão e André Henriques nos teclados. Todos de Uberlândia – MG. Mara Faria morou na Alemanha e fez lá algumas apresentações. A proposta de Mara é cantar em inglês e mostrar releituras do fino do jazz, blues, rock e soul. Billie Holiday, Ray Charles, Aretha Franklin e Etta James, entre outros bambas, estiveram no repertório do show apresentado na choperia.
Em breve o DVD e o PROMO CD "Jazz, blues e rock'n roll". O primeiro registro do trabalho conjunto dos três músicos.
www.uberlandia.com/marafariatrio

Juliano Costa

O percussionista Juliano Costa está na estrada fazem 15 anos.
Tinha tudo para seguir a carreira de agricultor mas a música - esta musa, tocou mais fundo.
Tocou, entre muitos outros, no grupo de rock Reverendo Jones e está trabalhado com músicas próprias, no projeto Ana Atômica - uma nova banda de rock com um DVD quase pronto.
www.anaatomica.com.br
O tecladista André Henriques, com o mesmo tempo de carreira do Juliano, também fez parte do grupo Reverendo Jones. Já tocaram até musica sertaneja nas noites dos bares mineiros e de outras praças.
Me contaram que foi muito proveitosa a estadia em São Paulo e têm agendados outros show na Paulicéia.
É esperar pra ver e ouvir.

domingo, 23 de setembro de 2007

Sagração da primavera

Na sexta feira 21, dois dias antes do início da primavera, Miguel Paladino e Vera Albuquerque convidaram amigos para o Sarau litero-musical e primaveril. Ali, nas proximidades da Av Dr. Arnaldo. Eles moram numa casa no meio do quarteirão e, por estas felicidades da vida, associada ao lado do cenógrafo e produtor, transformaram o jardim numa praça.
No cenário com fundo infinito e iluminação adequada e muito carinho saudamos a chegada da primavera.

Maria Haro e Ruy Weber

A violonista Maria Haro veio do Rio lançar CD com músicas de Nicanor Teixeira - compositor baiano residente no Rio. E ali, com sua energia contagiante, deu uma daquelas canjas substanciosas. No CD tem, entre outras, as músicas Kateretê das farinhas e Flor de Mandacaru. O CD é uma produção independente bancada por ela. http://www.mariaharo.com/ e-mail finaflor2007haro@gmail.com tel (21) 8715 5566, R$ 25. Pode ser comprado na Free Note na R. Teodoro Sampaio em São Paulo
Os violonistas Flávia Prando e o violonista Otavio Machado também brilharam. A Flávia está defendendo tese de mestrado sobre Othon Salleiro, compositor carioca que foi médico psiquiatra e violonista amador. Nasceu em 1910 no Rio e morreu em 1999. Só tem um long play gravado em 1964. O violonista paraense Sebastião Tapajós foi um de seus alunos
Ruy Weber é paulistano violonista e compositor. Foi do Grupo Raizes - anos 70. Hoje toca no Grupo Regional Bola Preta.
Rodrigo Lima violonista e ator. Mora no Rio está trabalhando na peça Ariano em cartaz no CCBB-SP.
Fábio Malavoglia com sua maestria criou um poema sobre um concurso de poesias e sua performance inebriou a platéia espalhada pelo jardim, que se assemelhava a uma praça do interior.

Libero Malavoglia

Libero Malavoglia recitou e cantou sambas. Não sabia deste seu lado cantor. Clélia, sua mulher, me disse que ele gosta de cantar. Leva jeito o rapaz.
Miguel Paladino leu trechos do livro A Metamorfose de Kafka e foi o mestre de cerimônias.
Vera Albuquerque registrou tudo com sua câmera digital.
Duas de minhas fotos foram expostas e, no laptop, apresentei um ensaio fotográfico do Acre e Amazonas sobre comunidades apoiadas pela WWF-Brasil, que procuram a sustentabilidade.
Num determinado momento o escultor Roberval Layus me disse: "Os artistas aquí reunidos são mais representativos do que os da Bienal de São Paulo".
A noite foi encantadora.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Babá. Vida. Vidal


Vidal Cavalcante durante a posse do Lula em 2003

Meu queridíssimo amigo.
Uma daquelas pessoas que se a gente não conhecesse ficaria faltando um pedaço.
Trabalhamos juntos na Folha, no Estadão, em projetos, sonhos, exposições e sua presença era um encantamento.
Veio do Ceará. Filho e neto de fotógrafos.
No início de 94 acalentamos a idéia de uma agência de fotografias Ondas 2.8 e ,nas suas férias, ele foi cobrir o Rio Jaguaribe para o nosso banco de imagens.
Em outro momento fiz a curadoria de seus trabalhos "Por ti América", no SESC Pompéia comemorando os 500 anos do descobrimento da América.
Entre tiros e festins ele visitou quase todos os países da América Latina

Viu e fotografou assasinatos.
Ternuras e torpezas.
No dia-a-dia futebol, política e beldades.
Festejou o cacho de bananas que nasceu no seu jardim.
A chegada de amigos cearenses, pernambucanos, paraenses...
Ele sempre tem motivos para celebrar a vida.
O Vidal é forte.
Ele vai superar este entroncamento.



Rio Jaguaribe


Demócrito Rocha


O Rio Jaguaribe é uma artéria aberta
por onde escorre
e se perde o sangue do Ceará
O mar não se tinge de vermelho
porque o sangue do Ceará
é azul ...


Todo plasma
toda essa hemoglobina
na sístole dos invernos
vai perder-se no mar.


Há milênios... desde que se rompeu a túnica das rochas
na explosão dos cataclismos
ou na erosão secular do calcário
do gnaisse
do quartzo
da sílica natural .


E a ruptura dos aneurismas dos açudes...


Quanto tempo perdido!
E o pobre doente — o Ceará — anemiado,
esquelético, pedinte e desnutrido —
a vasta rede capilar a queimar-se na soalheira —
é o gigante com a artéria aberta
resistindo e morrendo
resistindo e morrendo
resistindo e morrendo
morrendo e resistindo... (Foi a espada de um Deus que te feriu
a carótida
a ti — Fênix do Brasil.)


(E o teu cérebro ainda pensa
e o teu coração ainda pulsa
e o teu pulmão ainda respira
e o teu braço ainda constrói
e o teu pé ainda emigra
e ainda povoa).


As células mirradas do Ceará
- quando o céu lhe dá a injeção de soro dos
aguaceiros
as células mirradas do Ceará
intumescem o protoplasma
(como os seus capulhos de algodão)
e nucleiam-se de verde
— é a cromatina dos roçados no sertão...


(Ah! se ele alcançasse um coágulo de rocha)

E o sangue a correr pela artéria do rio Jaguaribe...
o Sangue a correr mal que é chegado aos ventrículos
das nascentes ... O sangue a correr e ninguém
o estanca...


Homens da pátria — ouvi:
— Salvai o Ceará!
Quem é o presidente da República?
Depressa uma pinça hemostática em Orós! Homens —
o Ceará está morrendo, está esvaindo-se em sangue ...

Ninguém o escuta, ninguém o escuta
e o gigante dobra a cabeça sobre o peito enorme,
e o gigante curva os joelhos no pó da terra calcinada,
e

— nos últimos arrancos — vai
morrendo e resistindo...
morrendo e resistindo...
morrendo e resistindo...

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Restaurante do Turiba

Chico César, Luiz Turiba, Chacal e Reza

No início de setembro voltando da viagem pela amazônia fui convidado pela Marilia Panitz para degustar comidas árabes no restaurante que o Turiba está construindo na sua chácara (só para pequenos grupos) em Brasília . Até poucos meses atrás ele era o assessor de imprensa do ministro Gilberto Gil.


De lá e à noite - fica no caminho de Sobradinho, a vista do Plano Piloto sugere um lugar calmo, sem a turbulência normal dos palácios e ministérios.


Sob a lua cheia os poetas Nicolas Behr e Chacal, o compositor Chico Cesar, a jornalista Déa Costa, o artista plástico Reza e vários outros azes e coringas do jornalismo e das artes autografaram livros e atualizaram conversas.

Os florais perversos de Madame Sade

Ruth Barros na noite de autógrafos

Não sei como fiquei este tempo todo sem ler o livro Os florais perversos de Madame Sade que a Ruth Barros, Marcos Gomes e Eloisa Campos escreveram. É uma leitura rica e excitante. Estou roubando tempo do trabalho para terminar de ler.

Afrânio Costa Neto

Amilca e Afrânio

Em junho deste ano o Afrânio Costa Neto se foi. Ele construiu minha casa em Camburi (Casa do Índio) a casa da Monica Zarattini e a da Marlene Bergamo entre muitas outras edificações entre Camburi e Maresias. Veio de Minas Gerais dos lados de Teófilo Otoni. Também o construtor do Arraial das festas juninas que fazemos lá. Era um daqueles amigos de toda hora. Um mestre de obra como poucos. Tivemos uma amizade de muitos anos. Grande figura.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Meu blog

Foto Vitor Novais nov. 2005

Hoje a noite o Vitor esteve em casa e trouxe o meu blog pronto. Participaram da inauguração a Anike e o poeta Ademir Assunção. Blues na caixa e papos variados.
Fiz um jantar. Frango assado ao molho de soja, batatas cozidas com bacon + queijo em pasta, salada, arroz com gersal. Romeu e Julieta na sobremesa.
A partir de hoje o meu jornal "Caxiuna - O Blog do Juvenal Pereira" vai nos deixar mais próximos.

De Xapuri ao Ramal do Toco Preto no Acre


Serra da Cantereira, São Paulo 15 agosto 17h

Sai de São Paulo 15/8 com destino a Rio Branco, no Acre. Escalas em São José do Rio Preto, Brasília e Porto Velho que da escada do avião vinha um cheiro forte de fogueira - as queimadas da floresta. No início da madrugada cheguei a Rio Branco. Estou a trabalho para a WWF - Brasil que apóia comunidades à procura da sustentabilidade.Na manhã seguinte fomos numa caminhonete 4x4 para a Reserva Extrativista Chico Mendes.
É inacreditável o trabalho que este seringueiro fez e os resultados conseguidos. Chico Mendes foi o fundador de um sindicato de seringueiros, e dedicou grande parte de sua vida a preservação da floresta amazônica, contra o desmatamento indiscriminado. Nascido no Acre, num seringal próximo à cidade de Xapuri, foi assassinado em 1988. A cidade Xapuri é pequena, mas bem arrumadinha.

















Casa Chico Mendes Xapuri 20h. Casa do Tião - Seringal Floresta

Algumas ruas são calçadas com tijolos vitrificados. De lá atravessamos o Rio Acre de balsa e numa estrada empoeirada fomos para o Seringal Floresta. Uma comunidade de extrativistas. Casas de madeira, fogão a lenha. Quase nada de móveis. Um calor de rachar. Minhas roupas ficam empapadas de suor.O seringueiro Tião – Sebastião Silva nos contou do trabalho deles, da conscientização pelo preço justo da seringa, da copaíba e da castanha-do-Brasil. Ele já deu cursos de capacitação de extração da seiva da copaíba para comunidades indígenas a convite da FUNAI. Na mata fomos extrair copaíba. Dizem que não se pode olhar pra cima nem conversar enquanto se extrai copaíba. Conversamos e olhamos pra cima - fotografei a árvore. Não é que não saiu uma gota de seiva. Ao lado da copaibeira tinha uma pequena colméia de umas abelhas superperigosas, mas não aconteceu nada. As crianças trouxeram ingás e experimentei a fruta de um sabor agradável.



















Semente de copaíba. Tião extraindo copaíba. Seiva da copaíba


Do Seringal Floresta fomos para outra comunidade, no Seringal Rio Branco, também resolvida em termos de conscientização política e de auto-estima. As casas são quase zero em bens, mas com o trabalho cooperativado e a ajuda do governo federal (subsidiam o preço da seringa) já subiram um pouco na escala econômica. Ali conseguimos ver a copaíba aflorar do tronco da árvore. Trouxe um pouco dela. A seringa adquiriu um bom preço porque construíram uma fábrica de preservativos em Xapuri e o látex é o tecido vegetal de maior elasticidade e resistência e no uso específico não pode falhar. Pernoitamos em Xapuri. Na manhã seguinte fomos para Brasiléia conhecer a Reserva Extrativista Chico Mendes. Trabalham com castanha-do-Brasil. Ali, em cooperativa, conseguiram eliminar a figura do atravessador. Numa das casas têm TV, som, e geladeira. O motorista da 4x4 disse que conheceu um sujeito que morreu no dia que a luz elétrica chegou. Ataque cardíaco de emoção. Na escolinha da comunidade a professora falava sobre o uso do trema.

Escolinha Reserva extrativista Chico Mendes


No final da tarde fomos para Cobija, cidade boliviana na fronteira com o Brasil que tem uma espécie zona franca. A maioria dos produtos é de baixa qualidade. Mas vi bolivianas vestidas a caráter e um mercado onde a higiene não era a palavra de ordem. Por uma lei do país é proibido andar de moto com capacete. Alegam que é para diminuir a criminalidade. À noite voltamos para Rio Branco.



Açougue em Cobija - Bolívia

Um dia de folga. Domingão. Dei uma volta pela cidade. Tomei tacacá no Novo Mercado Velho na beira do Rio Acre ao lado de uma ponte iluminada conhecida como Passarela. Nas comemorações do dia do soldado a banda musical do exército tocou sucessos de Luiz Gonzaga e Gilberto Gil com uma pequena exposição de armas em stands espalhados pela praça.















Passarela e o Novo Mercado Velho

Na manhã seguinte fomos pra Manaus. Pernoitamos e pegamos um ônibus para Silves, uma ilha no médio Amazonas. Na lama da estrada que liga Manaus até perto de Silves o bumba dançava pra lá e pra cá. Em Silves a organização feminina Avive produz sabonetes, perfumes e incensos de essências extraídas da mata: breu, cumaru e paxuri entre outras. Já foram premiadas na Suíça e pela revista Casa Cláudia. Agora os homens é que pedem dinheiro para as mulheres.
















Diretoria Avive Produtos Avive Silves - AM


Navegamos de voadeira por mais uma hora pelo lago do Rio Uburu, nas suas águas escuras, até a Comunidade São Pedro ver a extração da copaíba. De novo conversamos e olhamos pra cima e não saiu nada. Esperamos um tempão pelos outros companheiros que não vieram com o rango. O pessoal da comunidade dividiu conosco uma caldeirada de piranha. Fiz a sesta debaixo da mangueira enquanto minha camisa secava de tanto suor. Usava uma toalha para secar a transpiração que chegava a cotejar sobre a máquina fotográfica.






















Caldeirada de piranha e Comunidade São Pedro. Silves -AM

Dois dias no Hotel Shaloon que tinha muriçoca e outros insetos. Foi duro. Na volta embarcamos no expresso - uma lancha que faz o trajeto Silves/Itacoatiara pelo Rio Amazonas e de lá num ônibus até Manaus com o ar-condicionado gelando. Tive que tirar o casaco da mala. Por estas alterações de temperatura peguei uma gripe. De novo em Manaus nos hospedamos num hotel quatro estrelas e voltamos pro Acre. No aeroporto de Rio Branco fretamos um avião bimotor para fotografar as queimadas. Muitas, muitas. O céu está esfumaçado.


Queimada nas proximidades de Rio Branco

Meu apetite tem altos e baixos. O intestino reclama e o meu repertório das coisas brasileiras se amplia e, desta vastidão amazonense, reflito sobre o tamanho do Brasil.
O material que estou fazendo vai ser divulgado em todas as WWF do mundo. As fotografias vão ser ampliadas para exposições fotográficas, catálogos e ajudar estes brasileiros a comercializar seus produtos, obterem uma renda melhor dentro das possibilidades da sustentação.

















Rodoviária de Rio Branco e o encontro do Rio Purus com o Rio Acre


Próxima etapa Seringal Madeirinha em Boca do Acre no Amazonas. Duas horas e meia de voadeira pelo Rio Acre. Ali produzem o couro vegetal. Na floresta o seringueiro Marcos Antonio nos levou nas estradas de seringueiras para ver a coleta do látex e ouvir as histórias deste leite precioso. Todas as seringueiras são mapeadas e têm placas de identificação.
Na manufatura do couro vegetal colocam um pano de algodão esticado numa estrutura de madeira, embebem com o látex e levam pro fumador até dar o ponto. Voltam para o berço onde está o látex e dão um novo banho de leite. Volta para o fumador. Isto por seis vezes. Até obter a espessura requerida pelos compradores. Do fumador transportam para a estufa mantida a 80 graus Celsius. Depois da cura levam a peça para o rancho e cortam em panos (0,80m x 1 m), passam talco para proteger de ranhuras e de, eventualmente, colarem.








Corte, coleta e defumação e cura do couro vegetal




Produtor, costura e artesanato de couro vegetal


Algum tempo depois - dias, meses, anos - viram bolsas, pochettes, sacolas, pastas executivas e o mercado interessado é o alemão. Em 1999 Wilson Manzoni criou uma microempresa na cidade de Boca do Acre / AM para confecção e comercialização de bolsas e mochilas de Couro Vegetal e lançou a grife Seringueira. O objetivo é agregar valor ao produto na região e viabilizar uma saída mais constante para as lâminas de Couro Vegetal da APAS - Associação dos Produtores de Artesanato e SeringaDormi na rede em uma casa sem paredes. Um cortinado em volta da rede para evitar os carapanãs, besouros, aranhas caídas do telhado de palha de coqueiro, e do mosquito da malária que ataca à noitinha e pela manhã. Na noite enluarada sons da floresta povoaram minha insônia. Apesar de estar exausto. Voltamos para Boca do Acre na manhã seguinte.









Boca do Acre


Nesta época do ano o Rio Acre está com pouca água e as muitas árvores caídas no leito dificultam a navegação. Numa topada quebrou a hélice do barco. Um tranco. Foi substituída por outra. O milharal e as melancias, plantados na várzea, já estão quase no ponto de colheita. As melancias já são comercializadas. Chegamos à Boca do Acre (encontro do Rio Purus com o Rio Acre) perto do meio-dia.

Nossa viagem para Rio Branco foi de lotação (táxi) e pegamos um casal de índios (estavam indo para Rio Branco para tratamento de saúde) no quilômetro 82 da BR 317 que ficou parada na manhã de domingo por causa de um protesto dos pecuaristas e agricultores que querem a pavimentação da rodovia. Choveu em Rio Branco e passei toda a manhã no hotel trabalhando as fotos.













Artesãs e produtos artesanais da Comunidade de São Luis do Remanso


No dia seguinte fomos para São Luiz do Remanso - AC. Lá as mulheres fazem jogos americanos, com talos do cacho do açaí, colares e outros objetos com sementes de bacaba e de jarina (considerada o marfim vegetal). As mulheres são fortes, guerreiras e com a venda de seus produtos conseguem aumentar a renda familiar.
Ali todos conhecem o que fez Chico Mendes e seu legado. Acho que o Brasil está ficando diferente.



Corte das toras, empilhamento e corte para os laminadosde madeira


As últimas etapas da documentação fotográfica foram na Indústria de Laminados Triunfo, em Rio Branco e na Fazenda São Jorge, no Ramal do Toco Preto, nas proximidades de Sena Madureira. Eles trabalham dentro dos padrões exigidos pelo IBAMA. Fazem o remanejamento e algumas madeiras são certificadas.
As histórias humanas do Ramal do Toco Preto sugerem um capítulo à parte, mas como o relato está ficando longo paro por aqui.

Texto e fotos de Juvenal Pereira
Setembro de 2007