quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Yãkwa


Sal vegetal


Festa ritual dos índios Enawene-Nawe em homenagem aos espíritos subterrâneos - donos dos recursos naturais e das doenças. É realizada depois que uma série de catástrofes provocadas pela ação dos espíritos subterrâneos, sob a forma de ataques de onças, monstros aquáticos, tribos inimigas e epidemias quase os dizimou totalmente.

Hari-kare

A etnia
Os Enawene-Nawe moram na aldeia Matokodakwa - noroeste do Mato Grosso (Brasil). Também são conhecidos como os Salumãs. Nas suas crenças são descendentes de um único casal de seres humanos, suas tribos ancestrais originalmente habitavam o interior de uma pedra e, graças ao auxílio de um pica-pau, que fez um buraco na pedra abrindo uma passagem ao mundo exterior, eles se espalharam pela superfície da terra.
São muito bem humorados.

No final da tarde vários hare-kares tocam suas flautas

Os costumes
Mudam com freqüência de aldeia. A mudança geralmente é provocada pelo esgotamento dos solos em seus arredores, somado ao acúmulo de defuntos enterrados sob o chão das casas – o que atrai perigosamente os espectros sinistros dos mortos. Entre outras atividades as mulheres cuidam das roças e os homens das pescarias.
Dentro de sua cosmogonia o mundo tem 4 camadas: a terra; acima da terra onde ficam os Enores; acima dos Enores, a vastidão universal; e abaixo da terra, os Yakairitis.


Adultos e crianças levam os peixes moqueados para a aldeia

A festa. Yãkwa
Alguns índios nos esperavam na margem direita de quem desce o Rio Iquê. Na nossa chegada conversas rápidas e ajustes nos enfeites corporais de fibra de buriti. Um deles assume o controle do barco e fomos rio acima numa quase corrida fluvial.
No porto mais próximo da aldeia alguns Hari-Kares (anfitriões), jovens e crianças esperavam os Yãkwas – pescadores. Ali são descarregados os peixes moqueados envoltos em peças de taquara e transportados em cestos nas cabeças dos índios. Velhos, jovens e crianças caminham em fila até avistarem a aldeia. Com gritos, sons e cantos uma nova energia toma conta dos pescadores.
Na subida final a tensão aumenta. Logo em frente os Yãkwas entram na aldeia carregando cestos e estandartes - um peixe moqueado na ponta de um galho. Neste caminho são presenteados com cuias de mingau. Grupos de meninas e mulheres esperam ao lado das malocas.

O encontro

No centro da aldeia os pescadores Yãkwas são recebidos pelos Hari-Kares já enfeitados com fibras de buriti e adornos plumários.
A recepção é uma topada de peito com peito. Não é uma briga. É uma troca de sensações: chegando e deixando chegar depois de mais de 40 dias pescando em rios distantes da aldeia. O receber inclui a produção de beijus, sal vegetal (feito de folhas das palmeiras – função feminina), enfeites, flautas e mingaus.

Em volta do fogo

Também construir a fogueira principal cercada por estacas, em círculo, no meio da aldeia. Nas estacas são amarradas peças feitas com resinas vegetais e envoltas com folhas de pacova. Quando acesas viram tochas perfumadas e determinam um palco/círculo.



No período da vazante dos rios, as tardes e noites da Aldeia Matokodakwa são envolvidas no som inebriante de várias flautas, cantos e danças agradecendo a pescaria e a boa safra.

Texto e fotos de Juvenal Pereira

Nenhum comentário: