terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Marina, Turiba e Naruitho

Nestes dias de férias lí três livros (as última férias foram em maio de 1987, quando fui para o norte da África, Espanha e Paris). Um deles ainda pela metade - Vivendo sob o fogo, textos escolhidos da poeta russa Marina Tsvetáieva. Os outros dois foram o Clube do Ócio do poeta Luiz Turiba e Junto ao Rio Tamisa, livro de memórias do principe Naruhito - herdeiro do trono japonês.

- Vivendo sob o fogo(2008) É o âmago do prazer de escrever, mesmo sendo em precárias condições de habitação, época política e grana quase que zero e um corolário de infelicidades.
"Alguns seres excepcionais - os eleitos que receberam o dom da palavra - encontraram o absoluto na criação poética”.
É uma seleção de cartas, notas de diário e escritos esparsos da grande poeta russa Marina Tsvetáieva (1892-1941) organizada por Tzvetan Todorov traduzidos por Aurora Bernardini.

Clube do Ócio, 1980. O pernambucano Luiz Turiba faz uma ode à preguiça. O mais estranho é que anos depois, quando foi assessor do ministro Gilberto Gil, teve de fazer uma ponte de safena por excesso de trabalho.

Declaração do Clube do Ócio
Nhô no to saben donde cô to

Grito de Guerra do Clube
Sete e sete são catorze
Três vez sete, vinte e um
Tive sete sonhos eróticos
Mas não gozei em nenhum
Zum zum zum
Parara tim pum
Ócio
Ócio
Ócio

Junto ao Rio Tamisa – 2008, Príncipe Naruhito do Japão.
Ali o príncipe relata seus dois anos em Oxford estudando o comércio fluvial do Rio Tamisa. Diametralmente oposto ao Vivendo sob o Fogo, o príncipe não tem problema nenhum. Zero. É convidado por príncipes e reis para chás, jogos, jantares e relata com simplicidade seus dois anos na famosa universidade. Um único dissabor foi quando quis entrar em uma discoteca e foi barrado por estar usando jeans e tênis. Não tem a beleza literária dos dois livros mas como gosto de biografias foi bom ter lido.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Sinais do Zen

Monge Kogen na Casa do Índio - Camburi

Neste final de semana fui com o meu filho Manuel (14 anos) e o monge (Zen) Kogen Gouvêia para minha casa no Sertão de Camburi. Conversamos e muitas reflexões sobre o Zen aplicáveis na vida prática. Passeamos, atravessamos o rio a pé,fomos para a praia, fizemos comidas e o título do livro que Kogen está escrevendo e vai publicar em breve -Sinais do Zen.

(trecho do livro)

" É claro que seria muito fácil despertar o iluminamento através do simples acúmulo de ‘informações’, mas, pelo contrário, a fonte do ‘Vazio’ é atingida através do esforço e do esvaziamento. Uma das características para o encontro da mente búdica é que ela não é obtida com pouco esforço ou leviandade. Até mesmo o ‘aqui e agora’ de que tanto falam é decorrente de muita atenção no Caminho. É um sub produto de práticas perfeitas; de absoluto controle da mente. A grande verdade é que a Iluminação fica situada em um território minado, e quem quiser chegar até ela, deve inspirar muita coragem de atravessá-lo. Com tantas ameaças nebulosas, muitos acabam fugindo, desanimando ou negligenciando a perseverança, mas não devemos temer a insubstancialidade.
O ‘Vazio’ transcende qualquer definição. Certa vez, o oitavo patriarca da China Sekito Kisen, que transmitiria a grandiosa linhagem direta do Tathagata para Yakusan Iguen, perguntou a seu discípulo:

“O que está fazendo aqui?”
“Não estou fazendo nada”, respondeu este.
“Se é assim, você está desperdiçando seu tempo.”
“E desperdiçar o tempo já não é fazer alguma coisa?” foi a resposta de Yakusan.
Sekito ainda o aguilhoou. “Você diz que não está fazendo nada; então, quem é esse que não está fazendo nada?”
Ao que Yakusan respondeu, “Nem o mais sábio pode responder”.
(Suzuki)
Enquanto Manuel pegava ondas em boa parte das tardes (ele foi batizado no mosteiro Zen Morro da Vargem), nós dois andávamos pela praia, ocupados neste maravilhoso exercício humano que é conversar.

Manuel na praia da Baleia

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Patauá - O fruto que dá vinho e óleo

Samuel e óleo de patauá - Rio Marituba, Arquipélago do Marajó











Óleo de patauá e jacaré no moquém - Rio Marituba, Arquipélago do Marajó

O patauá é uma palmeira conhecida em toda a Amazônia e abundante na Ilha do Marajó. De suas amêndoas se extrai óleo e vinho. Já foi muito consumido mas a sua exploração não foi feita de maneira sustentável o que o levou ao quase extermínio. O óleo teve sua melhor visibilidade durante a Segunda Guerra Mundial, nos anos 40 do século passado, quando foi exportado para a Espanha que estava sufocada pelas conseqüências da guerra e teve de reduzir a produção de azeite de oliva. Em um breve e importante período o óleo de patauá ajudou na culinária espanhola. Os colonizadores portugueses utilizaram como substituto do azeite trazido de Portugal que acabava logo.
No Peru e também em algumas comunidades indígenas no norte do Brasil, além da cozinha, o óleo de patauá tem sido usado como tônico capilar. Na medicina popular combate a asma, doenças respiratórias e é eficaz para cicatrizar pequenos ferimentos. É também extraído no Acre e em outras partes da Amazônia com baixos custos de produção.
Os caboclos da floresta também usam para lubrificar suas espingardas. Em alguns meses do ano, janeiro a março, o “vinho do patauá” é vendido no comércio informal de sucos na cidade de Rio Branco-AC.
O engenheiro químico Luis Morais proprietário da fábrica de cosméticos Curupira, em Belém, dá oficinas, principalmente métodos higiênicos de extração do óleos, para os índios Uai-Uai no Alto Mapuera e adquire estes produtos para usar em sabonetes e óleos. A fábrica de cosméticos Natura lançou durante a 23ª Fashion Week em 2007 uma linha de sabonetes usando óleo de patauá.
Os caboclos da Fazenda Araraquara do empresário João Salim localizada nos Rio Cururu e Rio Marituba, no município de Chaves, no Arquipelago do Marajó , vão ser capacitados para extrairem o óleo em uma nova demanda. As palmeiras (oneocarpus batava) estão em plena safra.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

2009 um ano ímpar - verdadeiras histórias


Logo depois do natal familiar, em Belo Horizonte, fui com minha irmã Júnia e meu irmão Vitalino para o Sitio Sonho Meu em São Gonçalo do Rio Abaixo, perto de Itabira, terra de Carlos Drumond de Andrade. O nome do sítio justifica o trabalho da Júnia por 30 anos de carteira assinada como funcionária de uma companhia telefônica.
Recebeu uma indenização e com a grana comprou um pequeno sítio com uma casa de adobe. Deu uma tapa na casa, no jardim e horta. Ficou lindo.
Me lembrava aquela música do Milton Nascimento

Água de beber
Bica no quintal
Sede de viver tudo
E o esquecer
Era tão normal
Que o tempo parava
Tinha sabiá
Tinha Laranjeira...

Conversas. Muita chuva. Para passar o tempo dentro de casa fomos buscar
(eu e o Vitalino) um tronco de bambu na beira da estrada. Vinha pensando, desde São Paulo, em fazer novas luminárias de bambu com papel crepom. Depois de olhar e medir o bambu adequado, achamos um tronco no jeito e levamos para o sítio. Lavei com escova para tirar o limo e apareceu a cor. Um creme claro, tom pastel..
Cortamos alguns gomos com o serrote...

Estou escrevendo esta postagem a bordo da Lancha motor Araraquara, voltando do rio Murucutu, na Ilha do Marajó

...e fui tiranto tiras de bambu com um canivete bem afiado. Depois fizemos um gabarito, marcamos as medidas. Com uma serra fina cortamos os encaixes. Limpamos. Fizemos o acabamento com linha 10. Colamos as junções e deixamos secar.
Neste finalzinho do processo o João Simão me liga convidando para ir para a Ilha do Marajó que fica a 3 mil quilômetros de distancia de onde estava.
Tinha feito vários planos para o final de ano. A principio iria para Cuba com a Rebeca Kristch Mas o consulado cubano não forneceu o visto e adiei a data da viagem, A Rebeca foi como turista. Mandou um e-mail quando estava embarcando no aeroporto de Caracas para Havana. O plano B era passar o natal em Belo Horizonte e o reveillon em Diamantina. Convidei meu irmão Flávio até fiz uma reserva mas acabou não dando certo. A Júnia ia com a Edna e a Magda para Goiás e sobrava uma vaga no carro. Já estava fazendo planos da viagem quando a Junia me diz que recebeu um telefonema dizendo que a Cleuza tinha confirmado que iria também para Goiás. O plano C furou.
Vai daí que o Simão me liga fazendo o convite para ir para a Ilha do Marajó. Claro que topo respondi.
Voltamos para Belo Horizonte e no dia seguinte estava na Rodovia Fernão Dias a caminho de São Paulo e do aeroporto de Guarulhos com destino Belém do Pará. Teve um pit stop em São Paulo para a festa de final de ano na casa da Luludi.
Fogos de fim de ano na Av Paulista

Já em Belém o Simão me levou até o escritório do João Salim, empresário do ramo de navegação e fazendas que patrocinou minha viagem e a Expedição Patauá. À noite embarcamos no Navio Bom Jesus para o Estreito de Breves (continua...)