sábado, 19 de abril de 2008

Pacto com o tinhoso, o sem-nome, o coisa ruim


23 km ao norte da margem direita do Rio Ribeira, nas proximidades de Eldorado Paulista, Antonio Jorge lidera a comunidade quilombola Pedro Cubas. Bom de prosa e memória invejável contou esta história. Afirmou que ela vem de pai pra filho desde os tempos da escravidão!

“Pedro Cubas foi um escravo de Antonio Jorge, senhor de grandes áreas que iam desde Itapecerica da Serra até Iporanga, nas proximidades da Caverna do Diabo. Antonio Jorge era um homem muito orgulhoso. Não queria parecer pobre. Fez um pacto como o Tinhoso para não empobrecer nunca. No dia de selarem o acordo, o Sem-nome pediu para ele colocar uma venda nos olhos e o levou para um lugar desconhecido. Lá firmaram o contrato e assinaram com sangue. E assim Antonio Jorge foi levando a vida sem problemas financeiros. A produção agrícola suas terras nas margens do Rio Ribeira (nasce no Paraná e deságua em Iguape, litoral sul de São Paulo) era embarcada numa canoa de cinco palmos de largura por trinta palmos de comprimento. Quando a carga estava acondicionada mandava o remador deitar no casco da embarcação e fechar os olhos. Depois mandava abrir e, num piscar de olhos, chegavam em Registro para vender as mercadorias.
Sempre que precisava de dinheiro Antonio Jorge chamava o Demo para uma conversa, colocava uma venda nos olhos e se encontravam num outro lugar. Antonio voltava com o dinheiro e ia cumprindo seus compromissos.
Numa tarde, às três horas, tempo feio, nublado, raios cortando os céus, Antonio Jorge sumiu pela janela de sua casa. Escafedeu-se. Sua mulher Rosa Bette sabia do pacto. Para não criar especulações mandou cortar um toco de tronco de banana nanica e colocou no caixão coberto de pano e enterraram no cemitério de Eldorado. Depois de algum tempo em vez da cova se afundar, o que seria o normal, nasceu um pé de banana. Escavaram e não encontraram nenhum osso.”

Ontem, na comunidade Pedro Cubas, foi feito um plantio de mudas de várias espécies de árvores que faz parte do projeto de reflorestamento do Vale do Ribeira, apoiado pelo Instituto Sócio Ambiental ISA e Iniciativa Verde, com o suporte financeiro da Aymoré Financiamentos. O mutirão foi feito nas margens do Córrego Pedro Cubas para recompor as matas ciliares. Antonio Jorge, o líder comunitário, dirigiu todo o trabalho. Os homens ajudaram fazendo as covas, cortando estacas e plantando. As mulheres da comunidade fizeram bolos, biscoitos e um almoço com carne de panela, galinha caipira e refresco feito com limão capeta.

Nenhum comentário: