quinta-feira, 18 de setembro de 2008

De Assis Brasil até Guajará Mirim (Acre e Rondonia) Parte I

Divisa do Brasil com a Bolivia. Assis Brasil-AC

No início de setembro fui para o Acre e Rondônia (Amazônia) fazer a cobertura fotográfica da expedição “Uma jornada pelo Acre e Rondônia: 20 Anos do assassinato de Chico Mendes”, coordenada pelo jornalista Bruno Taitson da WWF Brasil. Convidados pela ONG de proteção à vida selvagem vieram dois jornalistas italianos, dois holandeses e um americano que ficou dois anos cobrindo a guerra do Iraque para o Washington Post. Atualmente é o correspondente do jornal no Rio de Janeiro e nas horas vagas surfa nas ondas das praias cariocas. O objetivo da expedição era apresentar a região aos jornalistas, seus problemas e algumas virtudes. O primeiro encontro foi em Brasília e a primeira parada em Rio Branco, capital do Acre. No restaurante do aeroporto Presidente Médici, perguntei aos pilotos do Boeing como eles conseguiam aterrisar. Um deles, bem humorado, respondeu: “A gente acha um buraco na fumaça e acerta a pista.” No almoço de trabalho, chegaram outros membros da WWF e nos situaram da expedição, sua logística, guias, infra-estrutura e personagens. À tarde a Senadora Marina Silva concedeu uma coletiva no seu escritório.
Marina Silva

Rio Branco - Xapuri
Na manhã do dia seguinte no caminho até o escritório eu e o jornalista Hans Heijt (holandês), passamos pelo parque de Rio Branco - AC e vimos uma jovem mãe apanhando folhas de seringa caídas no chão e perguntei para o que servia. Ela disse que era contra inflamações e prevenia contra o câncer.
No escritório Claudio Maretti, superintendente da WWF Brasil, fez uma apresentação dos objetivos da expedição apresentando mapas, estatísticas e resultados. No meio da tarde embarcamos em um monomotor, com assento para 12 pessoas - sem uma das janelas - para que as fotografias e a filmagem não tivessem a interferência do acrílico. Reencontrei o cineasta Waldir Pina de Barros que fazia a filmagem deste vôo.

Castanheira isolada em pasto

Decolamos para Xapuri (terra do lendário seringueiro Chico Mendes e de muitos outros anônimos) com algumas voltas e vôos rasantes pelo percurso. Fui fotografando a floresta, rios, fazendas, derrubadas e as queimadas com o seu tufo de fumaça. Uma sensação estar sendo privilegiado pela vida: olhava, enternecido, a floresta e tentava entender o por quê. Os tantos porquês.

Elenira Mendes - Filha de Chico Mendes

Livros de Chico Mendes


Em Xapuri Elenira Mendes, filha do Chico Mendes, concedeu uma entrevista coletiva. Bruno Taitson fez a tradução. O encontro foi na sala principal da Fundação Chico Mendes decorada de objetos pessoais, fotos, títulos, medalhas e troféus conquistados pelo herói da Amazônia. Elenira contou detalhes do assassinato do seu pai e as propostas da fundação instalada em um novo prédio com sala de exposição, sala de leitura e auditório. Fica na esquina em frente da casa onde viveu o legendário seringueiro. Costumo comparar Chico Mendes a Tiradentes – com as devidas distâncias no tempo e no foco das reivindicações.
Depois do almoço fomos de van para Brasiléia, divisa do Brasil com a Bolívia.



Brasiléia - AC
Em Brasiléia visitamos a Cooperacre – Cooperativa de Comercialização Extrativista do Acre. Tem uma polêmica da região. Durante muito tempo a deliciosa castanha produzida pela árvore Bertholletia excelsa. O gênero foi batizado em homenagem ao químico francês Claude Louis Berthollet. A árvore é conhecida como castanheira e produz a Castanha do Pará. Os catadores dos outros estados amazônicos reclamaram do nome “Castanha do Pará” por que a castanha não é produzida apenas no estado do Pará. Mudaram o nome para Castanha do Brasil. Agora os extrativistas da Amazônia boliviana e peruana reclamam do nome. Querem mudar para Castanha da Amazônia. Quem viver verá. A comercialização e a produção de castanha foi muito boa na safra de 2007 e faziam a capina do terreno ao lado do armazém para um futuro galpão. A armazenagem da castanha tem que ser feita com madeira porque se for feita em alvenaria a castanha apodrece.


Folha de latex FDL


Reserva Chico Mendes, Noroeste de Brasiléia AC

Fomos de Van.
Dentro da Comunidade São Pedro, na colônia Cumaru, o doutor da borracha desenvolve um projeto de fabricação artesanal de mantas de látex sem ser defumada. A tecnologia FDL (*) foi desenvolvida pela UnB (Universidade de Brasília) e o Doutor da Borracha – João Rodrigues de Araujo, como é conhecido o fabricante das mantas, bandeiras e sapatos feitos com látex laminado. Para presentear os jornalistas foram encomendadas bandeiras da Holanda, Itália e Estados Unidos. Não deu tempo para o doutor finalizar a encomenda e assistimos o manuseio do processo de laminação de uma pequena manta feita em minutos a partir de uma colheita recente de “leite” de seringueira. Improvisou um marcador comum com um garfo e descobriu que cortando duas mantas juntas com tesoura elas se colam. A mesa é a tampa de uma caixa d´água, feita de fibra de vidro “Não é adequado mas resolve o problema” afirma, orgulhoso, o doutor da borracha.

(*) SEM DEFUMAÇÃO – A folha de borracha produzida de acordo com a técnica alternativa recebe o nome de Folha de Defumação Líquida (FDL). O látex colhido da seringueira é coagulado com o uso de ácido pirolenhoso, subproduto da carbonização da madeira, que já incorpora ácidos e alcatrões. A secagem da FDL é feita em temperatura ambiente, ao ar livre, dispensando a fase de defumação. Isso livra o seringueiro da exposição excessiva à fumaça e melhora sua qualidade de vida.

2 comentários:

Unknown disse...

Ola,
td bem?
gostaria muito de poder usar sua foto "Divisa do Brasil com a Bolivia. Assis Brasil-AC" em um website no qual trabalho, relacionado a turismo em cidades brasileiras. a foto seria usada na pagina da cidade de Assis-AC.

Aguardo seu contato

Obrigado

Da Flor disse...

Em primeiro lugar, parabens pelo conteudo do blog que em muito ajudou.
Estou em busca do Doutor da Borracha – João Rodrigues de Araujo,o fabricante das mantas em FDL.
Sou acreana e trabalho com sandalias/acessorios artesanais produzidos com a materia-prima/ látex e preciso muito trocar informações com ele. Vc pode me ajudar com algum contato direto ou indireto com esta pessoa?
Desde já agradeço a atenção.
Bjos