quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Almir dos Remédios, o Tã.

Almir dos Remédios, o Tã - fotos de Juvenal Pereira

Concluindo e querendo mudar o conceito de que a vida de pescador é “acordar cedo, ir pra pesca, voltar a tardinha e acabou” Almir Tã iniciou sua bilbioteca quando fazia uma faxina numa casa ha dez anos atrás e achou “20 livros que ninguém mais lia”. Colocou estes livros numa estante que fez, um barquinho, no alpendre de sua casa na Ilha do Triunfo, perto de Paraty-RJ e hoje, a biblioteca comunitária, aberta 24 horas por dia, tomou vulto. O ambiente é decorado com suas pinturas e esculturas, peixes, pássaros e barcos. Um universo singelo com a contundência das coisas que estão no lugar adequado, na hora certa.
Igreja de São Pedro e São Paulo
Ilha do Araújo faz parte do arquipélago que acompanha o litoral da Baía de Paraty, em frente à Praia Grande. É ligada ao continente por um serviço de barcos que atravessam o estreito em 10 minutos
Na construção da sua biblioteca recebeu doações: “De amigos que tem este prazer da leitura e de fazer com que a leitura chegue a alguém”.
Biblioteca

Sua biblioteca é composta de algumas centenas de livros didáticos, dicionários, romances... de quase tudo. “Isto para um pescador caiçara, analfabeto começar a se envolver com uma biblioteca é uma coisa de maluco. Hoje para o Ministério da Educação quem não tem uma boa leitura é considerado analfabeto. Eu sei escrever. Não tenho uma boa leitura. Fiz a 4a. série com uma pessoa que nem era professora. Não tinha diploma de professora, quer dizer, era uma voluntária. O que é considerado semi-analfabeto.
Hoje o meu conceito de vida é que o que não pude ter pra mim eu quero que os outros tenham. Eu acho que consegui, ao longo de dez anos de biblioteca, mudar uma cultura. Estou mudando uma cultura. Porque a cultura da pesca é acordar de manhã cedo, sair para pescar, voltar à tardinha e acabou. A minha expectativa com relação à biblioteca é poder levá-la para outras comunidades, de barco ou por via terrestre: uma biblioteca itinerante. Eu estou dando um incentivo para a pessoa chegar, pegar um livro da biblioteca e se ainda tiver um tempo, dividir o cansaço dele com um livro pra ler ou um aluno que vem da escola onde fica o dia inteiro e dedicar uma hora ou duas horas a uma leitura. Acho que isso é um potencial, até pra mim. Eu sou um pescador e não tenho o hábito de ler. Tenho o hábito de escrever. Por pior que seja minha caligrafia, eu tenho um livro escrito (refere-se a Cultura Caiçara, uma publicação caseira, de 2003, em xerox tamanho A-4, com encadernação em espiral, ilustrada com fotos de Érika Koch, na qual explica as técnicas e utensílios de pesca (covo, tarrafa, puçá e outros), narra algumas lendas e mitos locais (a mula sem cabeça, as sereias do Araújo) e assina com seu nome artístico: Almir dos Remédios, o Tã.
Texto baseado em depoimento colhido por Miguel Paladino
Associação Casa Azul - Paraty – RJ
Contatos
Almir dos Remédios (24) 9841 8752
Associação Casa Azul (24) 3371 7082
ACA São Paulo (11) 3078 1693 / Miguel Paladino

Um comentário:

Luiz Alfredo disse...

O Caxiuna vai de vento em pôpa. Parabéns! Paraty é linda e o assunto muito gostoso. Vale uma matéria em vídeo.
Dos amigos Luiz Alfredo e Aninha.