terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Encontro de Folias em Água Suja.


Tradicionalmente os católicos fazem uma festa em homenagem à visita que os três reis magos (Melchior, Baltazar e Gaspar) fizeram e ofereceram ao menino Jesus, como presente, ouro, incenso e mirra, que simbolizavam a realeza, a divindade e a imortalidade. Segundo a tradição, um era negro, o outro branco e o terceiro moreno, representando toda a humanidade. Muitos países celebram a data. A Folia de Reis é comemorada de modo particular em cada região do Brasil. A origem da festa vem de Portugal.
No Brasil a visitação das casas acontece do final de dezembro até o Dia de Reis (6 de janeiro). Em alguns lugares dão o nome de Folia de Reis. Em outros Terno de Reis que, dependendo da região, é formado por músicos tocando tambores, reco-reco, pandeiro, triangulo, flauta, rabeca (violino de confecção caseira), pé-de-bode (acordeon) e viola caipira.
Alguns grupos têm dançarinos, palhaços e outras figuras folclóricas caracterizadas segundo as lendas e tradições locais. O Capitão da Folia é o líder. As canções sempre abordam temas religiosos e acontecem as tradicionais paradas para almoços, jantares e repouso dos foliões (com cantorias, danças típicas regionais como catira, moda de viola e cateretê).
Ao contrário dos Reis da tradição o folião não leva presentes e sim recebe do dono da casa para finalidades filantrópicas. Às vezes as canções são inteligíveis e isto ocorre quase sempre porque o ritmo ganhou, ao longo do tempo, contornos de origens africanas com fortes batidas e com um clímax de entonação vocal.
Capitão Antonio Ferreira da Mota


Eu dou salve a Nossa Senhora ai ai ai
São José e o Menino Deus ai ai ai
A Santidade do Presépio
Com a licença de Nossa Senhora ai ai ai
A nossa Senhora da Abadia ai ai ai
Para visitar a sua morada ai ai ai
Com licença de Nossa Senhora ai ai ai
Para entrar na sua morada ai ai ai

(Folia de Araguari. Solistas: Antonio Ferreira Mota e Darlene Antonia Mota)

O que permanece imutável é a canção de chegada onde o líder (capitão) pede permissão ao dono da casa para entrar e a canção de despedida quando a Folia agradece as doações, a acolhida e se despede.
Uma folia ou terno é composto (na maioria dos casos) pelo Capitão (que recita textos bíblicos). Na seqüência vem a resposta, segunda voz, terceira voz, quarta voz e em alguns casos a quinta voz. Estes nomes se referem a uma organização das vozes em tons e contra-tons, durante a cantoria, o que leva a formação de um coro muito agradável aos ouvidos. Muitos outros personagens podem aparecer, dependendo da região em que esta festa é realizada. Todos acompanham uma bandeira, estandarte da folia ornamentada com flores,figuras de santos, espelhos e fitas. Uma orquestra de violas, banjos, violões, zabumba, triângulo, pandeiros, maracás e sanfonas pulsam na regularidade de um organismo. Seus acordes servem de orientação às vozes e ordenam a evolução do espetáculo. O tempo da toada é circular, um convite ao desprendimento mundano e a busca de uma aliança com o divino. O mestre tem papel especial de iniciar o canto que é feito em versos e de improviso, agradecendo os donativos da casa visitada. Os outros componentes então repetem os versos, cada qual em sua voz na cadência definida pelo mestre, acompanhados pelos instrumentos. (Textos extraídos da internet)



Encontro de Folias dos Reis de Água Suja

Ana Martins dos Reis com lenço preto na cabeça
Cem quilos de arroz, duzentos e sessenta quilos de feijão, trezentos e oitenta quilos de macarrão, quatorze vacas, quatro porcos, doze sacos de batata, doze caixas de tomate, doze caixas de repolho, uma carreta de milho verde, quinhentos quilos de óleo, setenta quilos de tempero, oitenta quilos de sal, cento e cinqüenta voluntários (as), uma tonelada de entusiasmo e cinco dias de preparação foram necessários para o almoço dos foliões que é gratuito - por volta de quatorze mil refeições. Ana Martins dos Reis, neta da Jovita, foi a coordenadora deste banquete.
O Dito da Joana me confirmou a vinda de quarenta ternos de diversas cidades: Monte Carmelo, Campos Altos, Patrocínio, Araguari, São Gotardo e Goiatuba. Romaria participou com dois grupos.
Nos últimos 32 anos o Capitão Antonio Ferreira Mota dirige a Folia de Santos Reis de Araguari, acompanhado por familiares e amigos. Perto do meio dia subiu no palco e fez uma apresentação brilhante. Sua voz e a de Darlene Antonia davam vontade de chorar de tão bonitas. Já o João Antônio, de Uberlândia – MG, disse que “Ao longo da minha vida nunca vi um grupo com a toada do outro. Cada um tem uma toada, um ritmo”.
Pela quantidade de grupos e pelo tempo de apresentação nem todos puderam levar o terno ao altar de Nossa Senhora da Abadia por razões de logística. Se cada grupo se apresentar por quatro minutos (é a regra) a apresentação de todos demoraria por volta de três horas, sem contar o tempo de preparação e chegada até o altar. Isto inviabilizaria a realização da festa em um único dia, no domingo. Eu acho que ficariam contentes em serem vistos pela Nossa Senhora da Abadia a santa padroeira. Um palco com um bom sistema de som foi montado abaixo da escadaria com uma tenda ao lado abrigando os foliões que esperavam a vez de cantarem em louvor e agradecimento.
Enquanto aguardavam a apresentação outros grupos desciam a lateral da praça e sob dois arcos de bambus faziam suas evoluções e cantorias antes da apresentação oficial no palco. Perguntei a um dos foliões porque os instrumentos eram adornados de fitas coloridas e ele me respondeu que “eram para imitar o arco iris.
Nos intervalos músicos aproveitavam o encontro para trocarem informações e parcerias. Mané Caboclo com seu pé-de-bode, Moreno da Gaita (os dois se conhecem há dois anos e até o momento que perguntei o nome de cada um eles não sabiam) e João Paulo dos Cavalos(cavaquinho) fizeram uma jam session (termo musical usado para os músicos de jazz quando improvisam e tocam juntos sem ser a apresentação oficial) merecedoras da gravação de um CD. Como gostei comprei um CD do Mané Caboclo e seu Pé-de-Bode. Quando cheguei em São Paulo e coloquei o CD para ouvir não tinha nada dele. Comprei gato por lebre. Na capa do CD está ele alí todo feliz com sua sanfona verde. Valeu o que vi e ouvi.
Aproveitei minha estada em Romaria para ver a cidade, fazer fotos panorâmicas e conversar com meus conterrâneos. Treis mil e novecentos habitantes na área urbana e mais uns mil nas fazendas e sitios.
No final do dia encontrei com meus irmãos Magda, Vitalino, Manoel, Renato e a Regina (sua esposa), e ficamos ali, no banco da praça, conversando com o Colega e o Dagoberto assuntos de tempos passados e atuais. A cidade está precisando de tratamento d´água e esgoto para não poluir o Rio Bagagem e mais árvores nas ruas para amenizar a inclemência do sol de verão. Manoel me mandou uma poesia por e-mail

POUCO VERDE

Romaria, minha cidade, não muito verde tem
Verde os cerrados arredores e os campos também
Verde sim é a linda Praça da Matriz
Mas se espalhar pelas ruas a cidade ficará mais feliz

Eu queria ver mais verdes nas ruas
Ruas de Romaria. Limpas, porém, nuas
Vamos jogar sementes no chão
Pra ver o verde brotar e alegrar nosso coração

Queria ouvir as maritacas cantando
Por isso vou fazer uma prece rezando
Pra surgir nas praças, nas ruas e nas árvores das ruas
Verde e muitas árvores minhas e suas

O comando da prefeitura é competente
Dá pra confiar muito nessa gente
E por isso sei que em breve teremos
Ruas arborizadas e sombra fresca como queremos

Romaria está sob nova administração do PT. Como toda cidade do mundo recebe críticas dos adversários e elogios dos correligionários. Nesta época do ano a agricultura está no seu momento pleno. As lavouras de soja, milho, café fazem gosto de ver. Ainda tem diamantes. É só procurar que encontra algum para comprar. Alguns acham que o nome deve voltar a ser Água Suja. Outros discordam e vai continuar sendo assim por longos e longos anos até os últimos remanescentes do antigo nome terem ido de encontro ao senhor.



5 comentários:

Wilson José Prado disse...

Bom trabalho meu caro Juvenal. As folias de reis encontram-se mais acesas do que nunca.

Wilson Prado

Tati Campêlo disse...

estou divulgando meu novo blog
www.gastronomiaefotografia.blogspot.com
Se possivel de uma passadinha lá!

Atenciosamente
Tati

Ennio Brauns disse...

Parabéns Juva! Belo texto, belo blog!

Maria Celeste Gondim disse...

Olá Juvenal! Sou de Uberlândia e estou fazendo um trabalho sobre a cidade de Romaria.
No seu blog encontrei um pouco da magia, da raiz, das particularidades e poesia que procurava sobre a cidade. Fotos maravilhosas! Parabéns!
Celeste

Juvenal disse...

Celeste, tudo aconteceu antes em Romaria, (Ex Água Suja)