quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Confiança cega na Leica



O fotógrafo esloveno Evgen Bavcar, fez na terça, uma palestra no SENAC Consolação: Estética do (in) visível. Fui.
Ele fala um portunhol entendível: calmo, educado e sábio.
No início foram projetadas fotos suas em preto e branco. Ele, como um monge Zen – meditava, acho – por que, não vendo a projeção, o que poderia ocorrer na sua cabeça?
Nenhum nervosismo aparente.
Disse que só a poesia pode explicar, em palavras, uma fotografia.
Por incrível que pareça usa uma lanterna para iluminar algumas de suas fotografias. Para saber se ela está acesa e a bateria carregada ele aciona, pelo tato, um aparelho que, colocado no feixe de luz , emite um som, se sim. Faz uma demonstração para o público emocionado.
Na maior parte das vezes tem o auxilio de uma pessoa, assistente, para realizar as fotografias e as ampliações.
Sua primeira máquina fotográfica era russa. Presente de sua irmã.
Fez uma demonstração de como fotográfica com sua Leica, levando a camera até a altura do olho direito.
Disse que todos os pintores que retrataram Cristo se basearam nas escrituras bíblicas. Nenhum deles o viu. Portanto sua fotografia pode ser a imagem de Deus.

sábado, 21 de agosto de 2010

Os mundos da Rutinha

É o segundo (Yoga) sentido horário!

De vez em quando saímos por Sampa. Já assisti, convidado por ela, as óperas Salomé e Don Carlo no Teatro Municipal de São Paulo. Tentando, de longe, uma retribuição, convidei-a para ver no Teatro Dom Pedro o Barbeiro de Sevilha. O cenário era hitehc
Durante algum tempo ela teve uma coluna “Diário de uma perua” no jornal Estado de Minas dando transparência ao que acontece na capital das alterosas numa visão sutil, erudita e cortante. Pela sua agudeza e inteligência, suponho, a editoria do jornal não manteve a publicação.
O livro "Os portais satânicos de Madame Sade” – ela é uma das autoras, deveria ser lido por um puta roteirista e virar filme de Hollywood dirigido por Glauber Rocha ou, no mínimo uma mini série da TV Globo.
Neste carnaval de 2010 fomos pro Rio atrás dos blocos. Leblon, Santa Tereza e Ipanema: “o circuito carioca” (acontecendo nestes três pontos do Rio, acontece! ). Copacabana também entrou no circuito. Fomos andando do Leme até o posto 6. Para celebrar nossa viagem tomamos champagne Moet & Chandon na barraca da praia. Très chic!
Bem antes disso tudo ai de cima criamos o projeto A Posse do Lula. O nome inicial era Alma Lavada. Foi uma das maiores coberturas fotográficas já realizadas no Brasil: 17 fotógrafos e 5 repórteres desembarcaram de um avião exclusivo, em Brasília, para fotografar, em 2003, a primeira posse do Lula. Resultou na edição da Editora Takano “A Revista 2. O design (Fernanda Sarmento) da edição foi premiado na Alemanha e nos Estados Unidos. Em são Paulo foi realizada uma exposição fotográfica sobre o Viaduto Santa Efigênia. Na abertura a Orquestra Sinfônica fez uma apresentação no Largo de São Bento onde, anos mais tarde, o Sumo Pontífice saudou a população paulista.
Verão passado ela foi pro Alto Rio Negro, na Amazônia, fazer pesquisas sobre um médico e general aposentado do exército brasileiro que vive ha 50 anos na selva. Seus relatos sobre esta viagem são parecidos com a figura do Marlon Brando no filme Apocalypse Now (filme americano de 1979). Desta expedição vai sair uma reportagem, filme documentário e livro.
No dia mundial da fotografia, 19 de agosto, encontrei numa vitrine de Sampa, o livro da Ruth Barros, ao lado do livro do Paulo Coelho e pensei: é a Glória!

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Portais Búdicos


Conheci Kogen no Mosteiro Zen Budista Morro da Vargem, próximo de Vitória, no Estado do Espírito Santo, quando, com o jornalista Ademir Assunção, fazíamos uma reportagem para a revista Marie Claire. Ganhamos um prêmio pela publicação.
Depos do Zazen, depois da meditação e dos ofícios, Kogen esculpia, em pedaços de jaqueira, bodhisattvas e outras imagens ligadas ao Zen.
No inverno de 1994 batizei lá, neste mosteiro Zen, o meu filho Manuel numa cerimônia inesquecível. Os padrinhos são a Marilá Dardot e Ernesto Neto.
Em outra ocasião coordenei um workshop “A fotografia e o Zen”. Uma das tarefas do grupo foi fotografar suas esculturas. Uma delas, pela sua beleza e dimensões, necessitou a construção de uma capela ornada por um jardim.
Kogen também escrevia, em cadernos, anotações búdicas e sua trajetória pessoal.
Em janeiro do ano passado ele me convidou para fotografá-lo para a capa de seu livro, ainda em processo. Fomos, eu e o Manuel, para o Pico das Agulhas Negras. Numa madrugada de verão subimos até o Pico das Agulhas Negras.
No alvorecer umas mechas de sol iluminavam - ele e seu manto dourado sobre o Vale do Rio Paraíba.

Algum tempo depois fomos para o litoral norte de São Paulo num final de semana. Ficamos na Casa do Índio, no Sertão do Camburi. Então mostrou os originais do livro. Fizemos fogueira, rango, convesamos na varanda da casa, banho no Rio das Pedras, caminhada pela praia da Baleia conversando sobre o livro, o Zen e a vida.
Na sua peregrinação pelos caminhos foi monge do Mosteiro de Mogi das Cruzes - SP, em seguida no Mosteiro da Liberdade em São Paulo.
Atualmente é o monge residente no Mosteiro Kinkaku-ji em Itapecerica da Serra, cidade vizinha de São Paulo. Ele vai lançar o livro “Portais Búdicos” dia 21 de agosto na Bienal do Livro, no Parque Anhemby, em São Paulo. A partir das 16 horas. Stand da Editora LivroPronto. Vou estar lá e vai ser um prazer recebê-los

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O canto dos escravos

Nos anos oitenta hospedei na minha casa em Brasília um indiano que me contou sobre a evolução do poder a partir das construções. No inicio foram as cavernas, depois as choupanas, as casas grandes, os castelos, as catedrais, os arranham céus e as antenas. Em São João da Chapada, nas proximidades de Diamantina, onde nasceu Aires da Mata Machado Filho, filólogo, autor do livro “O negro e o garimpo em Minas Gerais” tem um exemplo desta trajetória da evolução do poder, aí na foto de cima.

Neste povoado foram extraídos muitos diamantes pela mão negra e escrava. Aires coletou letras e músicas que os negros cantavam no trabalho, na diversão e nos ofícios religiosos. Em 1929, o filólogo viajou para São João da Chapada, e ouviu umas cantigas em língua africana ouvidas outrora nos serviços de mineração. Algumas delas estão no livro - em partituras com letra e melodia. Em 1982 Clementina de Jesus, Geraldo Filme e Tia Doca interpretaram 14 cantigas ancestrais dos negros Benguelas (Vissungos) gravadas no disco O Canto dos Escravos da série Memória Eldorado.
Vissungos - palavra que vem do umbundo ovisungo (cantiga, cântico), conforme ensina Nei Lopes em seu Dicionário Banto do Brasil. Mata Machado sustenta a importância dos vissungos, sua influência nos começos daquele arraial e mais “os vestígios da língua das cantigas na linguagem corrente, na onomástica e na toponímia” – os vestígios de um dialeto banto num tempo em que se pensava que a língua dos negros trazidos como escravos para o Brasil resumia-se ao nagô.

Abaixo de São João da Chapada tem o Quartel do Indaiá (homenagem a uma palmeira). Já foi um quilombo.
Umas duas dezenas de casas, a Capela de Santa Rita, umas galinhas pastando, uma horta coletiva, uma mulher levitando em frente da sua casa nos fundos da capela fazem parte deste cenário.
Nesta viagem fomos eu e o Nem de Tal. Antes, quando esteve em São Paulo (junho de 2010), me presenteou o livro do Aires.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Busto de Mulher by Aleijadinho


No final de julho fui para Ouro Preto levar minhas panorâmicas. Fiquei hospedado na casa da Lila, lá no alto do Morro São Geraldo, local da tomada de duas delas: Amanhecendo e entardecendo em Ouro Preto.
A arquiteta Lila Carneiro é uma guerreira. Dá aulas na PUC de Belo Horizonte e tem um ateliê em Ouro Preto. Percorreu a Europa, Ásia e Bahia fazendo desenhos de prédios históricos, sempre sentada e tomando cerveja ou vinho em mesas de bares e varandas de hotéis. Nos conhecemos quando Roberto Carlos Lançou a música Maria, Carnaval e Cinzas no início da ditadura militar.De lá pra cá nossa amizade só se fortaleceu. Nos últimos dias de julho fizemos um jantar na sua casa com especialidades mineiras e o Luiz, um dos convidados, me contou a seguinte história: ele é advogado e representou o Ministério Público na peleja que o Prefeito Ângelo Oswaldo empreendeu para que o Busto de Mulher fosse retirado do Chafariz do Padre Faria ao lado da Igreja de Santa Efigenia e colocando no local uma réplica e o original - pela sua importância histórica e artística (primeira escultura feita por Aleijadinho – 1761, em pedra sabão), seria abrigado em um museu da cidade, coisa comum em outras freguesias, na tentativa de preservar suas formas que já estão dando sinais de desfiguração pela ação da poluição.
Tudo ia muito bem até que no dia aprazado para a transferência, embasados de todos os procedimentos legais para tal mister, com pompa e circunstância, as autoridades encontraram o chafariz cercado pela população local. Esqueceram de fazer a consulta pública. Os moradores negaram a transferência argumentando que, se tentassem fazer a retirada, a primeira escultura feita em pedra sabão pelo mestre Aleijadinho iria virar pó. Eles a quebrariam.
Rolou o maior clima e a cerimônia foi cancelada. Depois de consultas e mais consultas deram ganho de causa para os moradores e ela está lá até no dia desta foto. O argumento principal do ganho da causa é que a guarda é feita espontaneamente pela população da vizinhança. No dia que fiz a foto perguntei a alguns moradores se isto ocorria. Negaram dizendo que ninguém vigia.
Através do IPHAN de SP fui infomado pela Profª Myriam Ribeiro de Oliveira: “Quanto ao busto do Aleijadinho, é aceito por todos os especialistas da área e está no catálogo do German Bazin. O dito chafariz é documentalmente do pai dele, Manoel Francisco Lisboa”

Curiosidades do Google: “Entre estas, imagem simbólica de sua juventude descuidada e boêmia, um busto de mulher com os seios parcialmente desnudos, executado em pedra-sabão e datado de 1761, tem caráter de exceção, pela temática profana, no conjunto de sua obra de cunho quase que exclusivamente religioso.”

P.S. As panorâmicas provavelmente serão expostas, em 2011, na sala de exposições da FIEMG, na Praça Tiradentes quando Vila Rica completará 300 anos.